segunda-feira, 17 de junho de 2013

Não é por 20 centavos, é por DIGNIDADE

O Brasil é um dos países com maiores taxas de impostos. Também é um dos lugares com pior saúde, segurança, transporte e, principalmente, educação. No ano passado, em um ranqueamento mundial, nosso país ficou em segundo lugar como pior sistema educacional do mundo, perdendo apenas para a Indonésia. Enquanto isso, os salários dos políticos aumentam em proporções absurdas e o dinheiro público é jogado fora com reformas e construções de estádios para os eventos esportivos que teremos o "orgulho" de sediar até 2016 - como se o país do futebol não tivesse estádios o suficiente.
E ainda tem gente que acha que as manifestações que estão acontecendo pelo país são só pelo aumento da tarifa do ônibus. Gente que já se esqueceu do aumento do preço do tomate no começo do ano e do aumento do preço do combustível de tempos em tempos. Gente que não pensa no aumento no preço do leite, da carne, das frutas e até dos produtos menos necessários, como o chocolate, mas reclama toda vez que vai ao supermercado.

"É só playboyzinho que nem anda de ônibus reclamando por causa de vinte centavos"

1º- Essa frase tem tanto sentido quanto "você não tem porque reclamar da homofobia se você não for gay". Então eu também não posso ser contra o racismo, só porque sou branca? MESMO que o único problema fosse o preço abusivo do ônibus, eu ainda ficaria indignada, pegando ônibus ou não. Porque ainda que esse problema não me atingisse, ele ainda atingiria alguém que tem menos condições financeiras do que eu e para quem os três reais de cada passagem - que já era cara antes do aumento -, somando 6, 9 ou até 12 reais por dia, fariam muito mais falta.
2º- O aumento do ônibus não é a causa da revolta, é só a gota d'água. Meu problema não são os centavos a mais do ônibus. Meu problema é que, mesmo com a quantidade de impostos que todos nós pagamos, eu ainda tenho medo de ser estuprada cada vez que saio sozinha. Eu ainda preciso pegar ônibus que, além de caros, estão em terríveis condições. Eu ainda tropeço nas calçadas quebradas - isso porque eu não sou um idoso, nem um deficiente, nem uma mãe carregando um carrinho de bebê. Meu problema é que meus pais pagaram plano de saúde e escolas particulares para mim a vida toda, para terem a garantia de que eu teria uma educação de qualidade e pudesse ter atendimento médico quando precisasse, mesmo que seja obrigação do Estado garantir isso. Meu problema é que, como o grande circo que é nosso país, nós temos Marco Feliciano como presidente da Comissão dos Direitos Humanos. Meu problema é que a microscópica verba que o governo do meu estado dedica às escolas públicas chega a elas na forma de material de construção e computadores que são trocados todos os anos - muitas vezes, sem nunca terem deixado suas caixas, por falta de espaço e pessoal qualificado para sua instalação -, ao invés de ser revertida em salário ou, no mínimo, cursos de capacitação para os professores. Meu problema é a PEC 37, é pelo Estatuto do nascituro.
Meu problema é que, quando nosso povo finalmente se mobiliza e vai às ruas lutar contra tudo isso, é recebido com porradas, spray de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha, além do vergonhoso descaso da mídia e o título de "vândalos".

Não estou sendo utópica e dizendo que não houve vandalismo nenhum. É claro que houve, como há em qualquer situação que envolva uma aglomeração de pessoas. Eu vejo vandalismo em todo Carnaval, quando pessoas bêbadas quebram bancos, orelhões e banheiros públicos. Eu vejo vandalismo depois de muitos jogos de futebol, frequentemente acompanhado de brigas entre as torcidas. Eu vejo vandalismo depois do Ano Novo, depois de festas e as vezes até depois de um simples fim de semana. Eu vejo vandalismo toda vez que a prefeitura da minha cidade tenta arborizar uma das suas principais avenidas, e no dia seguinte já quebraram todas as mudas recém-plantadas. Se existem pessoas que quebram coisas sem motivo, como se espera que não exista quem quebre coisas quando estão todos frustrados e irados? (Isso não significa, de forma alguma, que eu ache que eles estão certos.)

Não há uma democracia quando não há oposição política, e é esse o problema do Brasil, um país no qual toda e qualquer divergência entre os partidos é resolvida com acordos por debaixo dos panos e os prejudicados somos sempre nós, o povo. Eu apoio as manifestações e, pela primeira vez em meus não-mais-tão-poucos anos de vida, eu tenho orgulho de ser brasileira.